sábado, 14 de janeiro de 2012

Coluna 82 - publicada no jornal Correio Agudense - Edição de 24AGO2011

Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História (Getúlio Vargas)

UM AGOSTO QUE CONFIRMOU A SINA – Conta meu pai de estar, naquele dia, a cortar cana na roça quando ouviu aviões singrar o céu de maneira incomum. O colégio da comunidade – hoje Escola D. Érico Ferrari – encerrou as aulas mais cedo. Era agosto, de 1954 – dia 24. A causa? Soube-a em seguida: o Presidente da República, Getúlio Vargas, se suicidara, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Comoção nacional. Assim, em meio aos afazeres do dia, a população brasileira foi surpreendida com a notícia, transmitida, com exclusividade, pelo Repórter Esso, nas Rádios Nacional e O Globo. Todos acreditaram – se deu no Repórter Esso é verdade!
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Getúlio Vargas não cedeu à pressão do capital e do interesse de grupos estrangeiros (a quem chamava de aves de rapina) que desejavam assegurar privilégios e novamente colonizar a nação brasileira. Na noite de 23 de agosto uma reunião do gabinete presidencial, que avançara na madrugada, concluíra pela oportunidade e necessidade de Getúlio Vargas licenciar-se do cargo ou renunciar. Suas convicções levaram-no a decidir-se por nenhuma destas alternativas. O governo nacionalista que implantara pretendia um Brasil para os brasileiros. Terminada a reunião, solitário no gabinete, manuscreveu a Carta Testamento. Pela manhã pretendeu ficar ainda um pouco mais em seu aposento. Às 08h15min o som de um tiro ecoou. Ao atingir o coração do Presidente, feriu de gravidade toda a nação.
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Passados cinqüenta e sete anos, os que testemunharam este fato histórico já com discernimento tem, hoje, mais de setenta anos. Convém ouvi-los. A tradição oral é das melhores fontes para aprender o quanto e como um fato influi na vida das pessoas, das instituições e – no caso de envolver um chefe da nação – do país.
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Transcrevo um trecho da Carta Testamento como está gravada, em bronze, na Praça Getúlio Vargas, no Mausoléu Getúlio Vargas, em São Borja, e em ainda muitos lugares púbicos e museus deste país. Entendo ser de relevância, para registro. "Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”
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Quando o inverno se prolonga, para que as citações ao frio não se tornem repetitivas, novas acepções vão sendo garimpadas no dicionário. Na segunda-feira a descrição da temperatura do final de semana ganhou novo adjetivo. Foi um frio de enrelegar os gaúchos, constou nos jornais da capital. Imagino a palavra sendo soletrada com o queixo tremendo en-re-le-gar. É... tá frio!
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A propósito do rigor das temperaturas baixas, consta que até outubro a presença do ar polar intimidará o aquecimento dos raios solares.

Paz e Bem.

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