segunda-feira, 12 de março de 2012

Coluna 109 - publicada no jornal Correio Agudense - Edição de 14MAR2012

Os filhos não são propriedade que podemos controlar como o manipulador às suas marionetes, ou treinar, como o domador aos seus leões


SOMOS ANFITRIÕES DE NOSSOS FILHOS – A relação pais e filhos – a primeira, a mais próxima e indelével relação entre as pessoas – é de tamanha riqueza e sensibilidade, que rende cada vez mais estudos a lhe revelar nuanças. Com exceção dos celibatários, o caminho natural de todos é ser pai ou ser mãe, cumprindo o papel de preservação e continuação da vida. Esta condição instala na vida uma realidade com a qual se deve lidar com maturidade e percepção de mundo (embora nem sempre isto seja assim).
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Por indisfarçável preferência, conduzo minhas leituras para a área da psicologia, do comportamento e promoção humana. Apreciei muito a linha de raciocínio do Padre holandês Henri Nouwen, apresentado em seu livro Crescer – os Três Movimentos da Vida Espiritual (Ed. Paulinas-1975). No movimento em que o homem passa da hostilidade à hospitalidade, o autor enfoca a relação pais e filhos sob um ângulo que merece ser partilhado. Transcrevo: “Pode parecer estranho falar da relação entre pais e filhos em termos de hospitalidade. Mas é questão central na mensagem cristã que os filhos não são propriedades para se ter e dominar, mas dons para se dar carinho e cuidados. Nossos filhos são nossos mais importantes hóspedes; entram em nossa casa, pedem atenção, ficam algum tempo e depois saem para seguir seu próprio caminho. Os filhos são estranhos que devemos conhecer; possuem seu próprio estilo, seu próprio ritmo e suas próprias capacidades para o bem e para o mal. Não podem ser explicados a partir dos pais. (...) As crianças carregam consigo uma promessa, um tesouro oculto que precisa ser trazido à luz através da educação em um lar hospitaleiro. É necessário tempo e paciência para fazer o pequeno estranho sentir-se em casa, e é realista dizer que os pais precisam aprender a amar seus filhos. O que os pais podem oferecer é um lar, um lugar receptivo, mas que também possui as fronteiras de segurança, dentro das quais as crianças podem desenvolver-se e descobrir o que é útil e o que é danoso. Ali a criança pode fazer perguntas sem medo e pode experimentar com a vida sem risco de rejeição. Ali pode ser incentivada a ouvir seu eu interior e a desenvolver a liberdade que lhe dá coragem para sair de casa e prosseguir a jornada.
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Em outro trecho acrescenta: “A consciência de que os filhos são hóspedes pode ser libertadora, pois muitos pais sofrem de profundo sentimento de culpa em relação a seus filhos, pensando que são os responsáveis por tudo o que eles fazem.  (...) Os filhos não são propriedade que podemos controlar como o manipulador às suas marionetes, ou treinar, como o domador aos seus leões. São hóspedes aos quais temos que responder, não posses pelas quais somos responsáveis.”
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Nesta análise, muito lúcida, cita ainda o prelado: “A tarefa difícil da paternidade é ajudar a criança a crescer para a liberdade que lhe permite ficar de pé física, mental e espiritualmente, e permitir-lhe afastar-se em sua própria direção. (...) Não há dúvida de que é difícil ver nossos filhos afastarem-se depois de tantos amor de amor e trabalho para conduzi-los à maturidade; mas quando nos lembramos de que são apenas hóspedes que têm seu próprio destino, que não conhecemos nem ditamos, somos capazes de deixá-los ir em paz com nossas bênçãos. Um bom anfitrião é capaz não apenas de receber seus convidados com honra e oferecer-lhes todos os cuidados que precisam, mas também de deixá-los ir quando chegar o tempo.
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Penso nada restar para acrescentar, senão o convite a reflexão e, quem sabe, uma releitura, devagar e com ânimo de perceber-se pai/mãe anfitrião de seus filhos!
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Sem mais, em meio ao turbilhão da vida, lhes desejo... Paz e Bem!

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