domingo, 3 de fevereiro de 2013

Coluna 151 - publicada no jornal Correio Agudense - edição de 23JAN2013

A ideia de trabalho como castigo precisa ser substituída pelo conceito de realizar uma obra

NOVAMENTE NA ROTA – Cumprido o período sabático de duas semanas em que o CA não circulou, retomo minha parte na cúmplice relação semanal de escrever, torcendo que os leitores estejam dispostos a assumir sua parcela lendo as inquietações e as observações que me inspira e desperta a vida e suas nuanças. Encontrei uma fonte muito pertinente a este momento de novamente olhar o horizonte, agora sob o signo de um ano cabalístico para tantos (o ano treze do segundo milênio) – o Filósofo Mário Sérgio Cortella. De suas proposições já me vali em tempos passados quando refleti sobre a incompletude de quem se situa no meio, pois “Deus engolirá os mornos”, lembram?!
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Desejando escrever sobre a atitude de fazer as coisas bem feitas, sou levado a retroceder no tempo para encontrar a raiz da palavra trabalho. Menciona Cortella no livro “Qual é a tua Obra?” (Vozes, 2012) ser trabalho palavra derivada do latim vulgar Tripalium, significando um instrumento de tortura, composto por três paus intercruzados, aposto ao pescoço do condenado. Na evolução do mundo ocidental, com forte impacto do domínio grego-romano nos séculos II a.C até V d.C., trabalhar era sinônimo de sofrimento, imoral, indecente, uma verdadeira  punição. Trabalhava quem era escravo. Esta concepção ainda perdura. Resquícios desta visão são percebidos quando se ouve (ou se diz) “Quando eu parar de trabalhar, vou fazer isto ou aquilo!” Será, então, preciso esperar passar o martírio do trabalho para ser feliz – é o que parece.
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Mas ninguém para completamente de trabalhar. Pode-se sim, depois de certo período, deixar de ter uma dependência do trabalho, por ter-se conseguido cumprir certo tempo de jornada formal de atividade. Mas ninguém deixa de fazer algo. E nesse fazer a pessoa se coloca inteira, seja para continuar existindo (o trabalho como fonte de renda e sustento), seja para ganhar reconhecimento (o trabalho como fator de entrega pessoal em favor de outro ou da comunidade). Esta segunda alusão ao que fazemos remete à expressão ‘labor’, também do latim. Os gregos chamavam de poiesis, com o significado de ‘aquilo que faço, que construo – a minha criação, na qual crio a mim mesmo, ao tempo em que crio o meu mundo.
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A ideia de trabalho como castigo precisa ser substituída pelo conceito de realizar uma obra. Não mais Tripalium, mas Poiesis. O jardim aparado, o documento lavrado, a lavoura plantada, a casa construída, a tese defendida, a sentença proferida – tudo deve representar a obra de seu autor, nunca uma estafante tarefa cumprida sob grilhões do Tripalium.
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Se o que fazemos tem um sentido, se nossa ação ajuda a criar o mundo em nosso redor, então estamos falando de nossa obra, não de nosso trabalho. Todos os dias, todas as horas devem ser dedicadas ao labor das obras que fazemos e não ao trabalho como um castigo.
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Pretendia emendar ainda um posicionamento sobre os reflexos para a sociedade (e para o protagonista) de uma obra bem feita e obra mal feita. Mas não há mais espaço.
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Ouvi, Li ou Vi –
Li: O carro é o cigarro do futuro. Vai continuar existindo, mas com restrições. Será usado só par o lazer. Será pequeno, elétrico, e você não será o único dono.” Jaime Lerner, legendário ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, analisando a realidade dos espaços urbanos (Revista Amanhã, Dez2012)
Li: Ser Prefeito é bom, é muito bom. Mas prefeitos que só enxergam problemas ficarão em situação difícil. Se ele se concentrar nos problemas, vai perder a chance de fazer as grandes mudanças.” (idem)
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Paz e Bem.

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